![](http://blogs.odiario.com/fernandarossi/files/2012/03/dia-da-mulher-super-mulher-e1331301387296.jpg)
À parte da natural
heterogeneidade de personalidades, de experiências, de gostos e de sonhos que
todas as mulheres portuguesas possam ter, regra geral, todas elas partilham algo
em comum: uma vida atarefada e cheia de responsabilidades em que têm de
desempenhar, a tempo inteiro, diversos papéis.
Os papéis de trabalhadora, esposa/namorada,
mãe e dona de casa podem e devem ser desempenhados por opção e é simplesmente
fantástico que uma mulher os consiga articular e assim, ambicionar ter uma
carreira de sucesso, ser uma grande amante, a melhor mãe do mundo, uma amiga
disponível, a dona de casa perfeita, etc.
Mas, à parte dos sonhos e das
ambições pessoais de cada mulher, não nos podemos esquecer que, quando ela tem
que gerir a sua carreira profissional e a sua vida pessoal e familiar, ela
fá-lo, muitas vezes, da melhor forma que lhe é possível e certamente, não da
maneira, que para si, seria a ideal.
São inquestionáveis as conquistas
que a mulher tem feito e que têm contribuído para a sua emancipação. A entrada
no mercado de trabalho é, sem sombra de dúvida, uma delas. Contudo, as mulheres
portuguesas, segundo as estatísticas, recebem ordenados mais baixos que os
homens (no desempenho das mesmas profissões), são as primeiras a ser despedidas
e têm empregos mais precários, mesmo embora tenham mais escolaridade que os
homens.
Além desta desigualdade, para
coordenar os vários papéis que desempenha, a mulher não vê a sua vida
facilitada no que concerne à gestão familiar e doméstica. A oferta de creches e
infantários, os horários dos mesmos, o horário do trabalho e o tempo perdido
nas deslocações diárias dificultam em muito conseguir atingir objetivos, já à
partida, ambiciosos. É certo que a realidade está a mudar e existe uma cada vez
maior partilha de tarefas entre o homem e a mulher mas, as estatísticas (mais
uma vez as estatísticas!) denunciam que é a mulher que trabalha mais horas,
fora do horário de trabalho.
Não sou nada apologista que
estejamos à espera que a situação do país ou da economia mundial mudem para
andarmos com a nossa vida para a frente. Até funciono ao contrário. Adoro
quando vejo que alcancei as minhas metas à custa do meu próprio esforço mas
convenhamos… é um pouco utópico ser e fazer tudo o que, a sociedade, muito
através dos meios de comunicação, espera que sejamos e façamos enquanto
mulheres. E parece tão acessível… parece ser tudo uma questão de organização!
Sem sombra de dúvida que é ótimo sentirmo-nos
bonitas; indiscutivelmente é imprescindível ajudar os nossos filhos a fazer os
trabalhos de casa, brincar com eles, estimulá-los, levá-los a passear fora de
casa, acompanhá-los nas atividades extra curriculares e ir a todas as reuniões;
é essencial ter tempo para namorar; é muito bom ser uma filha, irmã ou amiga
atenta e dedicada; é fundamental praticar exercício físico e estarmos atentas à
nossa saúde e à da família inteira; é fantástico investirmos na nossa
realização pessoal e profissional e estudar sempre e sempre mais; é fabuloso
enriquecermo-nos, a nível pessoal, fazendo atividades que nos dão prazer; é
maravilhoso preocuparmo-nos em ter e dar à família refeições saudáveis; é
perfeito ter uma casa bonita, organizada, arrumada e que respire saúde. Mas… e
se não conseguirmos ser essa mulher perfeita quando tantas mulheres, na
televisão, nas revistas, no cinema e aquela colega de trabalho ou a amiga da
nossa amiga conseguem ser e fazer tudo isso?
E porque é que, de forma não
explícita, se assume que se tem que “pagar” pelas escolhas feitas? Será que
existe, de facto, direito à escolha quando uma mulher adia a idade da
maternidade pela pressão da entidade patronal? Ou quando uma mulher, para ficar
com o seu bebé mais tempo, tem que optar entre isso ou o emprego? Será que
existe grande margem de opção quando se tem de escolher entre acompanhar os
filhos durante a infância ou sair do mercado de trabalho? Ou quando, para ter
um papel ativo, enquanto mãe, se tem de abdicar da progressão na carreira?
Não digo que todas as mulheres se
confrontem com estes dilemas. Cada uma tem a sua história mas se, na União
Europeia, as mulheres portuguesas, estão entre as que têm uma participação
laboral maior, entre as que trabalham mais horas, entre as que têm horários de
trabalho menos flexíveis, entre as que têm empregos mais precários e,
simultaneamente, entre as que têm menos apoios, isso significa que, algures,
por aí, noutros países, existem mulheres que também desempenham vários papéis
mas certamente, com mais qualidade de vida e com um maior direito à escolha. Existem
também crianças que usufruem de mais disponibilidade por parte dos pais, mas já
nem vou por aí… Chamem-me sonhadora mas, idealmente, também gostava que a
mulher portuguesa vivesse assim!
Por enquanto, tenho que me
contentar em prestar homenagem a todas aquelas que, sem superpoderes, todos os
dias têm que ser supermulheres!
Ana Rita Janeiro
Fontes:
Casaca, Sara Falcão, “As novas
dinâmicas laborais e os desafios da articulação com a vida familiar”, in Sociologia, Problemas e Práticas,
nº72, Oeiras, Maio, 2013. Acedido através de:
“Mulheres continuam a ser
descriminadas no meio laboral” in Diário
de Notícias, 8 de Março de 2012. Acedido através de: http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=2349798&page=-1
Relatório sobre o Progresso da Igualdade de Oportunidades entre Mulheres
e Homens no Trabalho, no Emprego e na Formação Profissional – 2011, Junho,
2012. Acedido através de: http://www.cite.gov.pt/asstscite/downloads/Relat_Lei%2010_2011_JUL.pdf
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