domingo, 7 de julho de 2013

Tributo à Mulher Portuguesa


                    


À parte da natural heterogeneidade de personalidades, de experiências, de gostos e de sonhos que todas as mulheres portuguesas possam ter, regra geral, todas elas partilham algo em comum: uma vida atarefada e cheia de responsabilidades em que têm de desempenhar, a tempo inteiro, diversos papéis.

 Os papéis de trabalhadora, esposa/namorada, mãe e dona de casa podem e devem ser desempenhados por opção e é simplesmente fantástico que uma mulher os consiga articular e assim, ambicionar ter uma carreira de sucesso, ser uma grande amante, a melhor mãe do mundo, uma amiga disponível, a dona de casa perfeita, etc.

Mas, à parte dos sonhos e das ambições pessoais de cada mulher, não nos podemos esquecer que, quando ela tem que gerir a sua carreira profissional e a sua vida pessoal e familiar, ela fá-lo, muitas vezes, da melhor forma que lhe é possível e certamente, não da maneira, que para si, seria a ideal.

São inquestionáveis as conquistas que a mulher tem feito e que têm contribuído para a sua emancipação. A entrada no mercado de trabalho é, sem sombra de dúvida, uma delas. Contudo, as mulheres portuguesas, segundo as estatísticas, recebem ordenados mais baixos que os homens (no desempenho das mesmas profissões), são as primeiras a ser despedidas e têm empregos mais precários, mesmo embora tenham mais escolaridade que os homens.

Além desta desigualdade, para coordenar os vários papéis que desempenha, a mulher não vê a sua vida facilitada no que concerne à gestão familiar e doméstica. A oferta de creches e infantários, os horários dos mesmos, o horário do trabalho e o tempo perdido nas deslocações diárias dificultam em muito conseguir atingir objetivos, já à partida, ambiciosos. É certo que a realidade está a mudar e existe uma cada vez maior partilha de tarefas entre o homem e a mulher mas, as estatísticas (mais uma vez as estatísticas!) denunciam que é a mulher que trabalha mais horas, fora do horário de trabalho.

Não sou nada apologista que estejamos à espera que a situação do país ou da economia mundial mudem para andarmos com a nossa vida para a frente. Até funciono ao contrário. Adoro quando vejo que alcancei as minhas metas à custa do meu próprio esforço mas convenhamos… é um pouco utópico ser e fazer tudo o que, a sociedade, muito através dos meios de comunicação, espera que sejamos e façamos enquanto mulheres. E parece tão acessível… parece ser tudo uma questão de organização!

Sem sombra de dúvida que é ótimo sentirmo-nos bonitas; indiscutivelmente é imprescindível ajudar os nossos filhos a fazer os trabalhos de casa, brincar com eles, estimulá-los, levá-los a passear fora de casa, acompanhá-los nas atividades extra curriculares e ir a todas as reuniões; é essencial ter tempo para namorar; é muito bom ser uma filha, irmã ou amiga atenta e dedicada; é fundamental praticar exercício físico e estarmos atentas à nossa saúde e à da família inteira; é fantástico investirmos na nossa realização pessoal e profissional e estudar sempre e sempre mais; é fabuloso enriquecermo-nos, a nível pessoal, fazendo atividades que nos dão prazer; é maravilhoso preocuparmo-nos em ter e dar à família refeições saudáveis; é perfeito ter uma casa bonita, organizada, arrumada e que respire saúde. Mas… e se não conseguirmos ser essa mulher perfeita quando tantas mulheres, na televisão, nas revistas, no cinema e aquela colega de trabalho ou a amiga da nossa amiga conseguem ser e fazer tudo isso?

E porque é que, de forma não explícita, se assume que se tem que “pagar” pelas escolhas feitas? Será que existe, de facto, direito à escolha quando uma mulher adia a idade da maternidade pela pressão da entidade patronal? Ou quando uma mulher, para ficar com o seu bebé mais tempo, tem que optar entre isso ou o emprego? Será que existe grande margem de opção quando se tem de escolher entre acompanhar os filhos durante a infância ou sair do mercado de trabalho? Ou quando, para ter um papel ativo, enquanto mãe, se tem de abdicar da progressão na carreira?

Não digo que todas as mulheres se confrontem com estes dilemas. Cada uma tem a sua história mas se, na União Europeia, as mulheres portuguesas, estão entre as que têm uma participação laboral maior, entre as que trabalham mais horas, entre as que têm horários de trabalho menos flexíveis, entre as que têm empregos mais precários e, simultaneamente, entre as que têm menos apoios, isso significa que, algures, por aí, noutros países, existem mulheres que também desempenham vários papéis mas certamente, com mais qualidade de vida e com um maior direito à escolha. Existem também crianças que usufruem de mais disponibilidade por parte dos pais, mas já nem vou por aí… Chamem-me sonhadora mas, idealmente, também gostava que a mulher portuguesa vivesse assim!

Por enquanto, tenho que me contentar em prestar homenagem a todas aquelas que, sem superpoderes, todos os dias têm que ser supermulheres!

 

Ana Rita Janeiro

 
Fontes:
Casaca, Sara Falcão, “As novas dinâmicas laborais e os desafios da articulação com a vida familiar”, in Sociologia, Problemas e Práticas, nº72, Oeiras, Maio, 2013. Acedido através de:
 
“Mulheres continuam a ser descriminadas no meio laboral” in Diário de Notícias, 8 de Março de 2012. Acedido através de: http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=2349798&page=-1
 
Relatório sobre o Progresso da Igualdade de Oportunidades entre Mulheres e Homens no Trabalho, no Emprego e na Formação Profissional – 2011, Junho, 2012. Acedido através de: http://www.cite.gov.pt/asstscite/downloads/Relat_Lei%2010_2011_JUL.pdf

 

 

 

 

 

 

 

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