terça-feira, 26 de novembro de 2013

Reflexão Sobre a "Palmada"


Ontem celebrou-se o Dia Internacional Pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres. Interesso-me particularmente pelo assunto da violência, enquanto Assistente Social, enquanto mulher, enquanto mãe e enquanto Ser Humano e abomino qualquer tipo de agressão contra crianças, idosos ou mulheres.

Embora o tema da violência contra as mulheres seja de relevância extrema e que, por isso mesmo, pretendo abordar noutra crónica, nesta, deixo algumas reflexões sobre a violência dos adultos sobre as crianças (as opiniões aqui expressas resultam de leituras feitas sobre o assunto e não pretendem julgar ninguém, apenas refletir sobre este tema).

 
Gosto muito das frases inspiradoras de pacifismo que Gandhi nos deixou. Tento, verdadeiramente, pô-las em prática todos os dias, ao ser seguidora assumidíssima do Principio da Não Violência tão defendido por ele. Não é um esforço que tento fazer. Sou mesmo contra qualquer tipo de violência.

Não nos esqueçamos que a luta contra a violência começa nos nossos lares!

Costumo dizer que nunca bati nem nunca vou bater nos meus filhos pois se nunca agredi nenhuma pessoa adulta (nem mesmo aquelas que já me tiraram do sério) como poderia eu bater nas crianças que trouxe ao mundo e que me cabe a mim proteger, amar e educar?

Não acredito que a famosa e "tradicional" palmada faça falta. A palmada funciona como um castigo para que a criança aprenda e respeite os limites impostos pelos seus progenitores. Trata-se, pois, de um comportamento pedagógico que os pais assumem e, em última instância, um gesto de amor que demonstram por aqueles por quem se preocupam em educar. Pois eu não acredito nesta lógica. Para mim, a palmada resulta de um descontrole sobre o qual vale a pena refletir.

Estudei, na Cadeira de Psicologia, que aprendemos muito mais através de estímulos positivos, de recompensas e de incentivos, do que através de estímulos negativos. Na prática, isto significa que, quando valorizamos, sistematicamente, o bom comportamento e as boas ações de uma criança, isso tem mais impacto na sua educação do que quando lhe impomos castigos.

 Isso não quer dizer que a punição não faça falta. Mas, que tipo de punição?

Há tempos ouvi, acerca deste assunto, um Pedopsiquiatra de renome dizer que as crianças, quando se estão a portar mesmo mal, só param quando sabem que os pais chegam ao “limite” e esse limite pode ser irem de castigo, pensar na vida, para um canto da sala; ou um berro ou uma palmada. Quanto maior for a agressividade que os pais tenham, de forma rotineira, mais longe vão ter de ir quando atingirem o “limite”. Por isso, se os pais mantiverem uma atitude, o mais calma possível (“calma” e não “indiferente”, “despreocupada” ou alheada”), perante o mau comportamento e a desobediência, quando, irremediavelmente, chegam ao “limite”, nunca vão precisar de assumir atos extremos e violentos.

Não estou a incluir a palmada no rabo como um ato violento. Só não sou, simplesmente, apologista da categoria dúbia em que as palmadas se incluem. Há a inocente palmada “para enxotar as moscas” no rabo; há o estalo na cara; há a bofetada; há a palmada aleatória; há os abanões nos ombros; há os puxões de orelhas...

A partir de que limite é que a integridade física e o respeito pela criança começam a ser postos em causa? (Existem também as agressões de tipo psicológico que são, também elas, graves, mas que não abordo neste texto).

“Violência gera violência”!

Além disso, o grau de violência exercido sobre alguém, dependerá menos do ato realizado pelo agredido mas, sobretudo, do estado de espírito que a agressor tem no ato de agredir. E esse estado de espírito resulta, muitas vezes, de outros acontecimentos e não exclusivamente daquele que gerou a violência. Ou seja, quando alguém está zangado porque o dia lhe correu mal ou está enervado porque se esteve a lembrar de uma situação desagradável, vai “perder”, muito mais facilmente, “a cabeça” quando se zangar com alguém, que nem tem nada a ver com aquilo que verdadeiramente é o fator ”stressante”!

Eu tenho, em casa, um verdadeiro traquinas e, quando ele era mais pequeno, ficávamos "à beira de um ataque de nervos", por vezes, por ele ainda não compreender a noção de "castigo" e, assim sendo, não encontrávamos forma de o parar, em certas situações “limite”. Pedimos opinião ao Pediatra do meu filho (um Ser Humano maravilhoso em quem confio cegamente) e tentámos sempre falar com o nosso mini traquinas, educa-lo para a noção de “estar de castigo” e ter muita, muita paciência!

Educar é um trabalho contínuo e conjunto, partilhado pelos pais.

O respeito ensina-se pelo exemplo e não pela força!

Não misturemos as coisas. Se há um agravamento de problemas comportamentais das crianças, nas escolas, isso não é consequência da falta de uma “boa palmada na hora certa” mas sim de outras causas.

Um grande professor meu, superespecialista em Psicologia, disse uma vez: “educar uma criança é muito simples… basta dar-lhe muito amor e muito carinho!”

Pois acredito que os grandes problemas comportamentais passam, precisamente, pela falta desse amor e desse carinho e de um ambiente estável e pacífico onde a criança possa ser criada, onde possa experimentar o mundo e aprender os seus limites, sempre sobre o olhar atento daqueles que mais a amam e que mais velam pela sua segurança e pela sua felicidade!

Ana Rita Janeiro

 

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