Ontem
celebrou-se o Dia Internacional Pela Eliminação da Violência Contra as
Mulheres. Interesso-me particularmente pelo assunto da violência, enquanto
Assistente Social, enquanto mulher, enquanto mãe e enquanto Ser Humano e
abomino qualquer tipo de agressão contra crianças, idosos ou mulheres.
Embora
o tema da violência contra as mulheres seja de relevância extrema e que, por
isso mesmo, pretendo abordar noutra crónica, nesta, deixo algumas reflexões
sobre a violência dos adultos sobre as crianças (as opiniões aqui expressas
resultam de leituras feitas sobre o assunto e não pretendem julgar
ninguém, apenas refletir sobre este tema).
Gosto
muito das frases inspiradoras de pacifismo que Gandhi nos deixou. Tento,
verdadeiramente, pô-las em prática todos os dias, ao ser seguidora assumidíssima
do Principio da Não Violência tão
defendido por ele. Não é um esforço que tento fazer. Sou mesmo contra
qualquer tipo de violência.
Não
nos esqueçamos que a luta contra a violência começa nos nossos lares!
Costumo
dizer que nunca bati nem nunca vou bater nos meus filhos pois se nunca agredi
nenhuma pessoa adulta (nem mesmo aquelas que já me tiraram do sério) como
poderia eu bater nas crianças que trouxe ao mundo e que me cabe a mim
proteger, amar e educar?
Não
acredito que a famosa e "tradicional" palmada faça falta. A palmada
funciona como um castigo para que a criança aprenda e respeite os limites
impostos pelos seus progenitores. Trata-se, pois, de um comportamento
pedagógico que os pais assumem e, em última instância, um gesto de amor que
demonstram por aqueles por quem se preocupam em educar. Pois eu não acredito
nesta lógica. Para mim, a palmada resulta de um descontrole sobre o qual
vale a pena refletir.
Estudei, na Cadeira de Psicologia, que aprendemos muito mais através de estímulos positivos, de
recompensas e de incentivos, do que através de estímulos negativos. Na prática,
isto significa que, quando valorizamos, sistematicamente, o bom comportamento e
as boas ações de uma criança, isso tem mais impacto na sua educação do que
quando lhe impomos castigos.
Isso
não quer dizer que a punição não faça falta. Mas, que tipo de punição?
Há
tempos ouvi, acerca deste assunto, um Pedopsiquiatra de renome dizer que as
crianças, quando se estão a portar mesmo mal, só param quando sabem que os pais
chegam ao “limite” e esse limite pode ser irem de castigo, pensar na vida, para
um canto da sala; ou um berro ou uma palmada. Quanto maior for a agressividade
que os pais tenham, de forma rotineira, mais longe vão ter de ir quando
atingirem o “limite”. Por isso, se os pais mantiverem uma atitude, o mais calma
possível (“calma” e não “indiferente”, “despreocupada” ou alheada”), perante o
mau comportamento e a desobediência, quando, irremediavelmente, chegam ao
“limite”, nunca vão precisar de assumir atos extremos e violentos.
Não
estou a incluir a palmada no rabo como um ato violento. Só não sou, simplesmente,
apologista da categoria dúbia em que as palmadas se incluem. Há a inocente
palmada “para enxotar as moscas” no rabo; há o estalo na cara; há a
bofetada; há a palmada aleatória; há os abanões nos ombros; há os puxões
de orelhas...
A
partir de que limite é que a integridade física e o respeito pela criança
começam a ser postos em causa? (Existem também as agressões de tipo psicológico
que são, também elas, graves, mas que não abordo neste texto).
“Violência
gera violência”!
Além
disso, o grau de violência exercido sobre alguém, dependerá menos do ato
realizado pelo agredido mas, sobretudo, do estado de espírito que a agressor
tem no ato de agredir. E esse estado de espírito resulta, muitas vezes, de
outros acontecimentos e não exclusivamente daquele que gerou a violência. Ou
seja, quando alguém está zangado porque o dia lhe correu mal ou está enervado
porque se esteve a lembrar de uma situação desagradável, vai “perder”, muito
mais facilmente, “a cabeça” quando se zangar com alguém, que nem tem nada a ver
com aquilo que verdadeiramente é o fator ”stressante”!
Eu
tenho, em casa, um verdadeiro traquinas e, quando ele era mais pequeno,
ficávamos "à beira de um ataque de nervos", por vezes, por ele ainda
não compreender a noção de "castigo" e, assim sendo, não
encontrávamos forma de o parar, em certas situações “limite”. Pedimos opinião
ao Pediatra do meu filho (um Ser Humano maravilhoso em quem confio cegamente) e
tentámos sempre falar com o nosso mini traquinas, educa-lo para a noção de
“estar de castigo” e ter muita, muita paciência!
Educar
é um trabalho contínuo e conjunto, partilhado pelos pais.
O
respeito ensina-se pelo exemplo e não pela força!
Não
misturemos as coisas. Se há um agravamento de problemas comportamentais das
crianças, nas escolas, isso não é consequência da falta de uma “boa palmada na
hora certa” mas sim de outras causas.
Um
grande professor meu, superespecialista em Psicologia, disse uma vez: “educar
uma criança é muito simples… basta dar-lhe muito amor e muito carinho!”
Pois
acredito que os grandes problemas comportamentais passam, precisamente, pela
falta desse amor e desse carinho e de um ambiente estável e pacífico onde a
criança possa ser criada, onde possa experimentar o mundo e aprender os seus
limites, sempre sobre o olhar atento daqueles que mais a amam e que mais velam
pela sua segurança e pela sua felicidade!
Ana
Rita Janeiro
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